A Anfavea, a associação que representa as montadoras instaladas no Brasil, irá à Conferência do Clima (COP27), que acontece até 18 de novembro no Egito, para tratar de pautas ligadas ao meio ambiente e, principalmente, para divulgar o país para o mercado global como um produtor de veículos que reivindica para si o papel de protagonismo nos anos de vida que ainda restam para os motores a combustão.
O presidente da entidade, Marcio de Lima Leite, desembarcará no Cairo na sexta-feira, 11, segundo apurou Automotive Business. Durante o evento, o representante fará apresentações sobre a capacidade instalada no Brasil, sua ociosidade, e as diversas tecnologias de propulsão aplicadas no mercado local, como as movidas a etanol, as híbridas e as que utilizam biocombustíveis.
O ideia da indústria local, por meio da Anfavea, é promover o Brasil como polo produtor de motores a combustão para atender mercados que deixarão de ser atendidos por montadoras instaladas em países onde este tipo de powertrain deixará de existir. Pela lógica, tais empresas focarão seus esforços no desenvolvimento de outros tipos de propulsão, abrindo espaço, portanto, para novos players.
Brasil como pai dos motores a combustão
E o Brasil, segundo o presidente da Anfavea, quer ser uma espécie de pai derradeiro dos motores a combustão, aproveitando oportunidades de negócios no exterior nessa janela de transição que marca hoje a indústria global de veículos.
Por outro lado, disse o representante das montadoras, o Brasil ganharia corpo nessa disputa por causa do processo de reestruturação das cadeias de suprimentos que ocorre no mundo pós-pandemia: indústria do ocidente já começaram a buscar fornecedores instalados em localidades amigáveis, ou seja, que sejam de alguma forma blindadas de intempéries e conflitos geopolíticos.
Mais fornecedores na faixa ocidental do planeta
Em outras palavras, dentro desse contexto, a indústria do ocidente quer, pelo menos, depender menos de fornecedores asiáticos. A recente disputa Estados Unidos-China em torno da tecnologia 5G, e a persistente crise dos semicondutores, que afeta produtores de veículos no mundo todo, escancararam a vontade de mudança por parte da indústria ocidental.
Por outro lado, uma série de fatores enfraquecem o Brasil nessa eventual busca por mais mercados no exterior para os veículos a combustão produzidos aqui. O principal deles é o fato do país ser uma plataforma exportadora aquém de suas próprias expectativas. O projeto em torno da transformação do país em polo exportador de veículos nunca o levou substancialmente para fora dos limites da América Latina.
Afora o Mercosul, acordos bilaterais com um ou outro país na região latina, e esforços pontuais de algumas montadoras, as montadoras instaladas aqui não realizam grandes embarques para mercados na Ásia, Oriente Médio, Europa e Estados Unidos, por exemplo. Mais de 50% das exportações de veículos Made in Brazil tem como destino a Argentina, segundo dados da própria Anfavea.
Retomada de políticas no comércio exterior
Exportar mais e para mais localidades, como é o desejo das montadoras locais, depende também de forte atuação do Governo Federal. Nesse sentido, parece que há alinhamento entre as partes. Durante a abertura da Fenatran, ocorrida na segunda-feira, 7, o atual ministro de Ciência e Tecnologia, Paulo Alvim, disse que o Brasil "precisa retomar as políticas de boas práticas no comércio exterior".
A premissa também é uma das bases do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, que assume a presidência a partir de janeiro de 2023. Lula, inclusive, deverá se reunir com o presidente da Anfavea durante a COP 27.
Para Margarete Gandini, secretária do ministério da Economia responsável pela área de políticas setoriais, o país estaria, de fato, diante de uma grande oportunidade de negócio: "Somos especialistas em manufatura. Existe uma grande janela de oportunidades na transição para a eletrificação. Podemos atender mercados onde o motor a combustão ainda é aplicado, sobretudo no segmento de reposição".
"Falta cobre, ministro"
Margarete Gandini e Paulo Alvim integraram uma grande comitiva que circulou pelos estandes das montadoras instalados na Fenatran no primeiro dia da feira. Durante o trajeto, o ministro em exercício até dezembro deste ano recebeu informações sobre os lançamentos das empresas e, também, queixas sobre assuntos ligados à produção.
Em um dos estandes, ouviu de executivos que falta cobre no mercado, fato que já estaria refletindo na cadeia de fornecedores das fabricantes de veículos. Ao perguntar sobre o abastecimento de semicondutores, o ministro ouviu de um executivo da Mercedes-Benz que a situação ainda é complicada e que deve perdurar até o ano que vem.
Fonte: automotivebusiness.com.br
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