Apesar da marca histórica de veículos eletrificados, futuro da mobilidade no país ainda é complexo
A Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE) anunciou que o país superou, no último mês de julho, a marca histórica de 100 mil veículos eletrificados em circulação. No entanto, será que o número reflete, de fato, a realidade? O Brasil já chegou ao futuro da mobilidade?
Rumo à eletrificação da frota?
Desde o início da série histórica, em 2012, foram vendidos 100.292 carros eletrificados no Brasil. Embora seja um passo progressivo e interessante para o futuro das viagens, o marco deve ser recomendado com uma reserva.
A ABVE considera veículos elétricos a bateria, híbridos plug-in (PHEV) e híbridos (HEV). Este último não pode ser conectado, possui eletricidade gerada por um carro de bombeiros. Em seguida, há a categoria de híbridos leves, onde o motor elétrico atua como gerador para auxiliar a unidade de combustão, mas não aciona as rodas.
Justamente por isso, não são considerados elétricos puros - os chamados BEVs (Veículos Elétricos a Bateria).
Carros elétricos puros são minoria
Dessa forma, os veículos elétricos puros representam menos de 10% da frota eletrificada do Brasil. Se retirarmos as lupas, a situação fica ainda mais complicada.
De acordo com o relatório anual do Sindipeças, o número de navios de cruzeiro brasileiros ultrapassou 46 milhões em 2021. Esta organização considera automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus. Mesmo descartando as duas últimas partes da equação, a representação dos bondes não é mais digna de elogios.
O Brasil não pode ficar para trás
A própria ABVE reconhece que, embora haja algo respeitável, o resultado está muito aquém do potencial do mercado brasileiro de veículos de baixa emissão. “Esses 100 mil [veículos] são impressionantes e mostram que o Brasil está no caminho certo, mas ainda falta muito para melhorar a eletrificação”, disse Adalberto Maluf, presidente da associação.
Vale destacar que, no primeiro semestre, 20.427 eletrificados foram licenciados no país. Tal representa market share abaixo de 2,5%. Se levarmos em consideração apenas os BEVs, a fatia cai para 0,4%. Destes, a maioria dos elétricos puros foram abocanhados por locadoras e frotistas.
Na Europa, por exemplo, os BEVs representam cerca de 10% do mercado. Os híbridos têm média de 25% de share. Na China e nos Estados Unidos, os veículos do tipo também têm boa participação. A ABVE estima, inclusive, que as vendas globais de eletrificados cheguem a 12 milhões de unidades em 2022 — quase o dobro em relação ao ano anterior.
“O Brasil não pode isolar-se das cadeias produtivas globais do setor automotivo. O risco é o país perder ainda mais competividade internacional e tecnológica, deixar de gerar renda e não produzir novos empregos de qualidade”, comenta Maluf.
Carros elétricos no Brasil: preços e infraestrutura
De acordo com pesquisa do BCG, realizada a pedido da Anfavea, os veículos eletrificados serão responsáveis por 60% das vendas no Brasil a partir de 2035. Essa situação só pode acontecer por causa da queda nos preços dos carros, causada pela recessão
custos de fabricação de baterias - identificados em outra pesquisa, da Alvarez & Marsal.
A consultoria mostra que, até 2028, os carros elétricos custarão o mesmo que os modelos equipados com motor a combustão. A participação de mercado dos BEVs aumentará. Serão 3% da frota em 2025 e representarão 9% em 2030.
O cenário otimista, porém, traz, de forma modificada, o infame “paradoxo de Tostines”: os carros elétricos vêm antes da infraestrutura de recarga ou a infraestrutura de recarga vem antes dos carros elétricos?
A Anfavea não pretende trabalhar no universo sem lógica. O negócio quer promover a criação de uma rede de estações de carregamento enquanto o mercado de veículos elétricos é expandido.
Segundo pesquisa do BCG, os carros brasileiros terão entre 10% e 18% de veículos elétricos em 2035. Com pelo menos 3,2 milhões de veículos desse tipo circulando em nossas estradas, precisaríamos de 135 mil postos para atender esse volume.
As estações elétricas já estão vislumbrando soluções de eletromobilidade e a oferta de estações elétricas está crescendo a cada ano. Mas será que o ritmo será suficiente para atender a demanda?
Este é um tema que, mesmo com especulações de todos os lados, há sempre um ponto de interrogação. Portanto, é importante estimular mais discussões para gerar respostas concretas.
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